05 maio 2016

Voices Inside Erin Murlaugh - Ficha Técnica

St. Mary’s Catholic Center - 4710 North Fifth Street, Phoenix, Arizona.

Sou eu quem precisa narrar esta história porque de certa forma eu sou o protagonista dela, e Erin é apenas minha marionete. Não possuo um nome ou uma forma física, existo porque ela existe, eu sou o seu espelho, nós coexistimos. Não me chateia o fato dela querer se livrar de mim, aliás me divirto com as tentativas, elas me tornam mais forte e me dão mais controle sobre suas ações, na verdade, - por favor não mencione isso a ela, lhe peço, aos sussurros e ainda com direito a uma piscadela de molhar as anáguas – Quando a persuadi para arrancar a vida daquele cretino namoradinho da infância, a quem saia as escondidas para se encontrar, ela quis se matar em seguida, tentou se afogar na banheira do internato mas, certamente, eu não poderia deixar que nada acontecesse a minha garota. Na época ela tinha 13 anos e a fé de uma criança ingênua.

Meus pensamentos constantemente não a deixam dormir durante a noite, eu penso muito alto, ela ainda costuma dizer que são pesadelos.

Mas vamos do começo. Seus pais jamais poderiam tê-la, sequer poderiam ter se conhecido, uma espécie de Romeu e Julieta séptico sem o final trágico e o romance ardente, o que tiveram foi um instante impulsivo que terminou por gerar uma criança de pai Geshstein e mãe Ishzhev. Para o gran-finale fora acrescentado ainda o sangue da avó materna também, que curiosamente era meio-Leschwell. Ambos estavam destinados a seus respectivos irmãos como forma de preservar uma linhagem pura e precisavam jurar para a família que não se conheciam, fugir era suicídio, além de desnecessário, sequer se amavam para isso. No período da gestação, assim que tornou-se impossível esconder as mudanças do corpo, sua mãe decidiu viajar pelo Arizona, com a desculpa de que era uma viagem de negócios. Passando-se por necessitada, ficou aos cuidados das irmãs do Instituto St. Mary, um internato com nome de Santo. Ela escapou sem dar notícias durante a noite, assim que a criança completou um mês de vida, e só regressou quando a filha completou cinco anos, por puro remorso durante um breve momento, onde entregou-lhe uma espécie de diário que narrava a própria vida e o rumo que ela provavelmente teria de tomar. O diário só foi lido quando Erin completou dez anos. O pai nunca a visitou.

Era uma criança alegre e adorável, embora constantemente nossos diálogos tenham incomodado as irmãs do convento, lembro-me perfeitamente de seu primeiro castigo, nós rabiscamos as paredes brancas do templo reservado à missa com símbolos que a instituição repreendia, e quando lhe perguntaram porque fizera aquilo, Erin prontamente lhes respondera que fora porque eu pedi. Ela passou aquela noite isolada do resto das garotas, rezando infindáveis e repetidas preces que já lhe eram familiares. Os anos não lhe roubaram a esperança e a fé, entretanto, eu era o veneno que destilava e corria em suas veias. Assim como na noite que a fiz assassinar o amigo. Eles se viam ao pôr-do-sol e se aventuravam juntos pelos arredores do internato e as sinuosas ruas de paralelepípedos da cidade de Phoenix. Erin sempre me permitiu fácil acesso a seu acervo de memórias, era muito simples fazê-la enxergar o que eu queria até mesmo fazê-la acreditar que seu amigo era um monstro terrível e que ele lhe faria mal se não fizéssemos algo. Assim como as tartarugas se escondem em seus cascos e os gambás lançam um odor desagradável, Erin se escondia em algum lugar seguro dentro da própria mente e me deixava assumir, quando se sentia em perigo. Depois disso foi bem fácil, enrolei o cadarço de seu sapato ao redor do pescoço do garoto magricela e o assisti se debater, ambos tinham a mesma força corporal, embora eu fosse um terço mais forte afinal.

Erin, quando se deu conta do que fez, do que fizemos, entrou em completo desespero, aí eu também tive de intervir para que ninguém suspeitasse e para me assegurar de não termos deixado vestígios. Ela escreveu sua carta de admissão para o Circo da Lua nesse mesmo dia, e partiu sem avisos quando fora aceita.

É claro que ela teme abrir os olhos e descobrir mais um corpo, também teme ao fechá-los, porque não gosta da escuridão. Luz e sombras, o dia e a noite. Diríamos que é o que nos define melhor. Tem sangue em suas mãos. A todo instante ela oscila entre a calmaria e a tempestade, ela olha por cima dos ombros e acredita que pode estar sendo perseguida. Todos os dias espera poder ter o controle completo sob suas ações.

O primeiro ano na Cova foi repleto de descobertas, descobrimos que éramos mais forte do que aparentávamos fisicamente, e isso impressionava alguns garotos que acabavam por servir como distração mais tarde. Foi então que ela resolveu que para suportar a escuridão precisava estar acompanhada, só assim ela conseguia me manter sob controle. Descobrimos também que Erin não se preocupa com a dor, mas a dor alheia para ela é tortura, enquanto eu acho extremamente divertido, e tenho certeza de que terceiros adorariam observar as nuances temperamentais de uma mesma garota ao assistir alguns novatos deixarem o Circo logo na primeira prova. E por último, certamente, descobrimos que Erin tem fome de tudo: ela quer saber, sentir, provar, amar, odiar e se entregar pra agora, desesperadamente e em grande quantidade, sem meio termo e protelação, ela tem urgência. Não chega a ser a mais popular da Cova, nem de longe, somos extremamente seletivas, além do fato de Erin ter medo de provocar o sofrimento alheio de certa forma. E por essa maldita questão é que estamos sempre em discordância.

ELA.
Sua vida é uma batalha interna de luz e trevas constante, se uma das forças um dia cederá para a outra assumir por completo é impossível saber. Não consegue aceitar a própria natureza exatamente por não conseguir dominá-la, por isso seguiu os concelhos de sua mãe e se inscreveu para o Circo da Lua, ainda que estes concelhos tenham sido dados nas folhas de um velho diário de capa preta. Erin possui uma força física inimaginável, nada extraordinária, porém é além do que aparenta. Entretanto não possui boa resistência psicológica, ela é rodeada por medos e traumas de infância que a desmoronam facilmente. A aparência contradiz com o interior e suas atitudes oscilam o tempo todo, alguns diriam que é bipolar, paranoica e até psicopata, quando na verdade, talvez seja só muito indecisa sobre quem quer ser.

*Essa era a ficha de uma personagem minha em um RPG sobre uma escola-circo de alunos-demônios, ligados aos pecados capitais, de onde vem a origem do sangue deles; mas flopou em menos de uma semana, não quis perder a história, de qualquer forma.*    


11 janeiro 2016

Resenha #02 - Onde a Lua Não Está, de Nathan Filer

Primeira postagem de 2016, eu sei, porém, esse ano farei mais resenhas, customizações etc etc ok? Ok! "Mesmo sendo época de TCC na faculdade, Tainá?" Então, escrever é o que faço de melhor, né, tentaremos. 

Enfim, preciso falar sobre esse livro maravilhoso que li em 2014, sei que já faz um tempo desde o lançamento dele mas estive reparando que a repercussão foi menor do que eu esperava, não faz jus á história e esta, aliás, faz parte da minha Coleção de Suvenirs indubitavelmente. Esse livro eu ganhei de cortesia do Skoob, e foi a única cortesia que ganhei na vida, pra falar a verdade, é da Editora Rocco e tem um título e uma capa maravilhosa. 



O livro é narrado em primeira pessoa, e o narrador é o Matthew. Matthew tem um irmão mais velho, chamado Simon, e Simon é uma pessoa especial. Os meninos, juntamente com os pais, fazem uma viagem de férias. Lá, eles aprontam feito meninos de pouca idade, mas alguma coisa dá errado. Desde então, Matthew se sente culpado pelo que aconteceu com o irmão mesmo que não consiga se lembrar. A história gira em torno das lembranças confusas de Matthew, ao mesmo tempo em que relata as etapas e os sintomas da esquizofrenia, sempre pela perspectiva de Matthew, que as vezes tem de desenhar para se expressar melhor, outras vezes datilografar. Realmente as vezes fica confuso acompanhar o raciocínio, são 269 páginas de um jogo de palavras muito bem escolhidas, é preciso atenção e algumas recapitulações. Ah, e um caderninho de anotações pra relembrar das citações favoritas. 

Embora pareça um drama sobre um rapaz problemático, ao desfecho, compreendemos que trata-se de um romance com final feliz que foge dos estereótipos, nos dando um choque de realidade daqueles que renovam nossas esperanças e nos faz refletir sobre nossa capacidade de resistir, de persistir e de amar e aceitar quem somos. 

E juro! É um desses livros que nos deixam com ressaca literária, eu demorei boas semanas pra conseguir encarar outra leitura. 


Gostou? Não esquece de deixar seu comentário. Ok? Bjkx 

05 junho 2015

#PH Poem a Day - Dia 05, O Lá Menor

Nem sustenidos;
nem bemóis.

Só essas versões,
melódicas
e harmônicas.

Aqui nesse semitom;
Só sí lá dó
Sol Lá menor. 

04 junho 2015

#PH Poem a Day - Dia 04, O Silêncio

Olá, minha querida solidão.

Já me acostumei com sua presença, infelizmente, a contragosto. Eu não a culpo, sei que está apenas cumprindo seu papel. É você quem vem ocupar esses imensos espaços vazios quando não há ninguém com quem conversar, ou para quem telefonar, e até mesmo quando os que te rodeiam nunca parecem prestar atenção à suas pupilas dilatadas. Não queria ser tão próximo de você assim, me desculpe, mas estou sendo sincero. Sua companhia as vezes trás um copo de cerveja e uma música ou outra do Ryan Adams, é tolerável, mas ainda assim, é frio. É triste quando resta você. Eu sei que talvez você não ligue, mas, se você for tão sentimental quanto eu, vai ligar. Veja bem, querida, me desculpe se estou sendo grosseiro ou se de alguma forma estou fazendo-lhe chorar agora, porque eu realmente costumo trazer o choro a tona. Mas você tem que entender como eu me sinto quando todas as vozes se calam e só o que resta é o som da TV, durante um programa ao qual ninguém presta atenção, e todos dão gargalhadas falsas, maquiados pela mídia. Mas, não vou mais tomar-lhe o tempo. Sinto que estou sendo-lhe inoportuno. Aliás essa é minha função. Faço tudo parecer desconfortável, e dou o ar da graça ao fim de discussões sem fundamento, também. Bom, querida, manifesto aqui meu descontentamento, e lamento a nossa convivência.

                                               Nos encontramos em outra hora. Teu Silêncio.


* Esse texto foi escrito há três anos, por mim.
* Existem duas músicas que sempre vem a tona enquanto o leio
Can't Get You Off My Mind, do Lenny Kravitz e I Miss You, do Blink 182.

03 junho 2015

#PH Poem a Day - Dia 03, O Labirinto

[O Labirinto do Corpo]

Começa pelos olhos,
e eu te mastigo.
Lenta e inexoravelmente.
Já é tarde para tentar controlar o tremor nos próprios lábios.

E você desce por minha garganta,
tóxico como cigarro.
Mas ainda assim te devoraria.

Os pulmões à muito já não são os mesmos,
não existe mais fôlego o suficiente;
Taquicardia, bradisfigmia.

O coração bombeira o sangue como um relógio cuco;
desenfreado, Tic tac tic tac!

Preciso te deixar, te exonerar dos pensamentos;
Aqueles, sórdidos, enquanto o sono não vem.
Mas estou olhando através das paredes insondáveis ao seu redor;
Enclausurada e fadada pelos mistérios que te circundam. 

As mãos, trêmulas, apertam o estômago,
no intuito de conter as borboletas 
e as mariposas e os percevejos.
Nada feito.

Você passa
Mas o teu efeito...

#PH Poem a Day - Dia 02, Marina

[Olhar]


Marina 
Menina 
Tua alma é poema 

Que rima
Que brinca
Com a brisa
Do mar.

Marina 
Me ensina 
Me nina 
Me guia 
Que eu vou 
Naufragar.

Desesperado.
E esse seu olhar.

Olá! Depois de anos sem usar o blog, cá estou outra vez com um propósito maior ao menos. É basicamente isso, fui convidada pela Vic (preciso colocar o blog dela aqui) a participar desse projeto chamado A Poem A Day, que ao pé da letra é isso mesmo, um poema por dia. Eu perdi o primeiro dia, mas vou compensar um dia, quem sabe. E sem mais blá blá blá, beijos! :*