04 junho 2015

#PH Poem a Day - Dia 04, O Silêncio

Olá, minha querida solidão.

Já me acostumei com sua presença, infelizmente, a contragosto. Eu não a culpo, sei que está apenas cumprindo seu papel. É você quem vem ocupar esses imensos espaços vazios quando não há ninguém com quem conversar, ou para quem telefonar, e até mesmo quando os que te rodeiam nunca parecem prestar atenção à suas pupilas dilatadas. Não queria ser tão próximo de você assim, me desculpe, mas estou sendo sincero. Sua companhia as vezes trás um copo de cerveja e uma música ou outra do Ryan Adams, é tolerável, mas ainda assim, é frio. É triste quando resta você. Eu sei que talvez você não ligue, mas, se você for tão sentimental quanto eu, vai ligar. Veja bem, querida, me desculpe se estou sendo grosseiro ou se de alguma forma estou fazendo-lhe chorar agora, porque eu realmente costumo trazer o choro a tona. Mas você tem que entender como eu me sinto quando todas as vozes se calam e só o que resta é o som da TV, durante um programa ao qual ninguém presta atenção, e todos dão gargalhadas falsas, maquiados pela mídia. Mas, não vou mais tomar-lhe o tempo. Sinto que estou sendo-lhe inoportuno. Aliás essa é minha função. Faço tudo parecer desconfortável, e dou o ar da graça ao fim de discussões sem fundamento, também. Bom, querida, manifesto aqui meu descontentamento, e lamento a nossa convivência.

                                               Nos encontramos em outra hora. Teu Silêncio.


* Esse texto foi escrito há três anos, por mim.
* Existem duas músicas que sempre vem a tona enquanto o leio
Can't Get You Off My Mind, do Lenny Kravitz e I Miss You, do Blink 182.

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